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sábado, 30 de março de 2013

Leituras de Março

Aqui vão as leituras de março!

Filme Laranja Mecânica dirigido por Stanley Kubrick

Laranja Mecânica de Anthony Burgess ♥ ♥ ♥ ♥ ♥

Perturbador. Foi como se tivessem me puxado pelo colarinho com uma máquina de pegar ursinhos e me levado para dentro do mundo de Alex. Esse garoto maluco, doido e projeto de um estado terrivelmente forte. As palavras novas criadas pelo autor ajudaram nesse estranhamento, fazendo a leitura se tornar densa no começo. O estranhamento não passa totalmente ao longo do livro, mas o faz se tornar incrivelmente original. Com Laranja Mecânica fechei meu trio distópico (1984 e O admirável mundo novo) e percebi que não sou livre, você não é livre, ninguém é livre. Agora é só descobrir as amarras que me prendem, indico.

A valsa dos Adeuses de Milan Kundera ♥ ♥ ♥

Quase dancei ao ler esse livro. As histórias se entrelaçam de tal maneira que realmente senti estar em uma valsa. Esterilidade, aborto, existencialismo e falsa compaixão, esse livro envolve tudo isso. Até onde vamos por um amor, pelo amor próprio e por aqueles que pensamos amar? Não é o melhor livro de Kundera, mas a leitura foi fácil e rápida, principalmente pela história se passar em apenas cinco dias.

Ninguém escreve ao Coronel de Gabriel García Márquez ♥ ♥ ♥ ♥ 

O quanto a burocracia pode travar uma vida? O coronel espera há anos por sua aposentadoria que nunca chega, seu filho morreu e sua mulher vive doente. Tudo que ele tem é um galo de briga e uma casa hipotecada. Toda sexta-feira o coronel vai até o correio ver se sua aposentadoria chegou e nunca há nada para ele. Quase um conto de tão curto, história emocionante e triste. 

A brincadeira de Milan Kundera ♥ ♥ ♥ ♥

Senti o peso que esse livro teve na época em que foi publicado, contém críticas duras ao comunismo e tudo que acontecia nas entranhas de Praga quando a Rússia a invadiu. Kundera é o rei de como envolver história, política e amor em um só livro. Como é um dos primeiros livros escritos por ele dá pra perceber claramente a distância da escrita desse livro até o que eu considero sua obra prima, A insustentável leveza do ser. Indico, sem dúvidas, mas a diferença desse para seus outros livros é gritante.

Gabriel García Márquez
"Mas quem era eu de fato? Sou obrigado a repetir: eu era aquele que tinha muitas caras. Durante as reuniões, era sério, entusiasta e convicto; desenvolto e brincalhão em companhia dos colegas; elaboradamente cínico e sofisticado com Marqueta; e, quando estava só (quando pensava em Marqueta), era humilde e encabulado como um colegial. Essa última cara seria a verdadeira? Não. Todas eram verdadeiras: eu não tinha, a exemplo dos hipócritas, uma cara autêntica e outras falsas. Tinha muitas caras porque era moço e porque não sabia eu mesmo quem era e quem queria ser."

Milan Kundera em A brincadeira 

Bom, minhas férias acabaram, estou me mudando e segunda já me cadastro na Biblioteca Municipal de Santa Maria... Mas não espero muito de mim nos próximos meses, sério, 12 livros lidos só esse ano, haja fôlego e amor no coração!

quinta-feira, 21 de março de 2013

Dissecando poesia

Paulo Leminski (1944-1989), poeta curitibano.

Incenso fosse música

isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

Leminski


Dissecando "Incenso fosse música": o que queremos ser, já somos. Por que o que está dentro de nossa alma, já significa o que a gente verdadeiramente é. Se você quer ser um engenheiro, joga lego desde a infância, constrói castelos na areia, dentro de você, você já é um engenheiro. Buscar o que é sonhado e não sê-lo somente no mundo abstrato faz você ir além.

Por outro lado não há como fugir disso. Incenso nunca será música. Uma semente sempre será uma árvore e o ir além é somente uma evolução da nossa própria essência. Do que já somos.

A moral do poema é não se afligir por ainda não ter chegado onde deseja, pois você já é aquilo que quer ser.

terça-feira, 19 de março de 2013

Puta continental

Clark Gable & Carole Lombard

Putas também amam
também amam poesia
putas não são putas
só tem mais alegria

Putas não existem
somos todos animais
machismo generalizado
nas esferas continentais

Putas da memória
triste é não sonhar
sociedade pervertida
sem mais putas para amar.


sexta-feira, 15 de março de 2013

Os leões da literatura

Vai, Carlos! ser gauche na vida
Carlos Drummond de Andrade

Toda palavra nasce condenada. Um livro é a profusão de tudo aquilo que o autor não quer mais pra si. Ele quer largar para o mundo, para o mar, para o céu e aos quatro ventos. Um conto é uma pequena amostra daquilo que pode vir a marginalizar a sociedade. Do que um dia pode vir a se tornar... Livro. Os livros são a depravação do que está intacto, estão todos limpos da poeira sangrenta de tantas histórias inacabadas. E essas pavorosas histórias matam a sangue frio. Mantendo-se sempre intactas.

Liberta de si, coitada, ela achava que estava.

O corpo é a prisão da alma, a alma, um inocente condenado a morte. A morte a antítese de qualquer livro.

Ria sozinha, indiscreta, liberta de si; lia.

Um romance que se preze vem com lágrimas nos olhos. A literatura mata, lentamente, todos aqueles que à ela tentam se impor. Os deuses irreais de todas os velhos reinos. Imune ao tempo, à guerra, ao drama pós-moderno. É a deusa mãe de todos os livros, mesmo dos contos marginais, que ainda estão para nascer.

Coração maluco, lê uma nota no jornal e descobre aterrorizado: a literatura eterniza. Palavras condenadas a viverem para sempre. Condenadas a vencerem todas as lutas e matarem todos os leões. Leões esses, que sempre se vão com o tempo.

Lia sozinha, liberta, ela chorava.

domingo, 3 de março de 2013

Leituras de Fevereiro

Já fazem três dias que março chegou, mas nunca é tarde para demonstrar amor por livros, então...

Ernest Hemingway

O livro do riso e do esquecimento - Milan Kundera ♥ ♥ ♥ ♥

Um híbrido entre a história e a ficção. Uma mistura de fugas, amores e medo. Um bom livro de contos, que fez crescer ainda mais meu amor pela República Tcheca e sua capital, Praga. Dos três livros que li de Kundera, esse é o mais pesado, tanto no medo do governo que os personagens sentiam, quanto no peso existencial de cada caractere ali descrito.

A Queda - Albert Camus ♥ ♥ ♥ ♥

Esse livro é um emaranhado de frases duras, carregadas daquilo que somos e ignoramos. É como uma conversa com um amigo que fala o que você é sem papas na língua e sem medo de ver no seu rosto a decepção e a vergonha. Camus escreveu esse livro em forma de monólogo, e mesmo sendo um livro curto, pode ser uma leitura um pouco demorada, justamente pela carga que cada parágrafo traz consigo. Um livro bom.

O sol também se levanta - Ernest Hemingway ♥ ♥ ♥

Os livros do Hemingway sempre me deixam meio perdida depois que eu acabo de lê-los. Eles são crus, puros e limpos. E depois da leitura é difícil saber o que pensar de algo tão diferente. Ainda não decidi se gosto de Hemingway pra valer, mas os livros dele sempre acabam me deixando um pouco tonta, tamanha a verdade neles inserida. "O sol também se levanta" era pra ser uma documentação pós-guerra, porém para mim foram dias de bebedeiras infindáveis de pessoas ricas e sem nenhuma preocupação. Fiquei de porre com eles, e no fim achei tudo muito natural, assim como eles. É um bom livro pra quem nunca leu nada desse escritor norte-americano e quer começar com o pé direito com a bela fiesta espanhola.

Risíveis amores - Milan Kundera ♥ ♥ ♥ ♥ ♥

Kundera é maravilhoso. "Risíveis amores" quase desbancou "A insustentável leveza do ser", também de Kundera, na minha humilde lista mental. Não o fez, apenas pelo fato de não ser uma história só e sim sete, por isso criar carinho pelos personagens fica mais difícil. As sete histórias mostram o ridículo do amor, as ilusões, as traições e  aquilo que está inerente em todos os relacionamentos humanos: a mentira. Uma das histórias que mais gostei foi "O jogo da carona", um casal de namorados começa a brincar que são desconhecidos, ela finge pegar uma carona com ele e eles se apresentam como se nunca tivessem conversado. Acabam descobrindo coisas um sobre o outro que somente um amante - no estilo mais vulgar possível - poderia saber e jamais eles mesmos, sem essa teatralidade. Um livro ótimo, que com certeza indico.


O mês de fevereiro foi produtivo, espero que março também seja. Estou lendo agora "Laranja Mecânica" do totalmente maluco Anthony Burgess.

"As crianças também não tem passado, e é esse todo o mistério da inocência mágica do seu sorriso."
Milan Kundera em O livro do riso e do esquecimento.