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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

cinco beatas apaixonadas

noite úmida e tropical
o vento norte
sacode
agita
balança o varal

chove antes,
chove depois.
vai-se a luz,
na igreja: cruz.

cruzam dedos
cinco beatas
um padre
quatro mulheres
que não são.
não são nada.

nem megeras nem nada.
não querem ser nada
nem mundanas nem
nem nada, nem inertes
nem inócuas nem nada.

cruzam dedos em revelia
querem algo, mas sei lá
quê, sei lá donde, sei lá
porquê.

cruzam dedos,
pra sorte, pro azar, pra amar.
pal'vento norte não engatilhar.


Santa Maria, RS, Brasil. Setembro de 2015.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

poesia mal-criada

para sugar de dentro o que faz mal
mal que veio de fora sem pedir sem bater sem chamar
para arrancar de dentro a angústia
que para na garganta
na promessa
no amanhã "não"

para tirar de dentro aquilo que não queremos
tudo que poderia ser uma nova história
um novo poema, um conto de fim de tarde
para acabar com os dilemas não resolvidos
as conversas não acabadas, os pontos intelectuais
ressecados no fim de uma tarde de junho:

HAY QUE GRITAR.

Santiago de Chile '15

sábado, 30 de maio de 2015

[é que ao tentar]

é que ao tentar
de tanto tentar me canso
e nas horas perdidas em desalento, danço.

e ao sorrir,
de me rir, descanso,
e entre versos apertados
me deixo parar, tento levar
portanto.

e quando acordo,
de tão sensata me encanto,
que mentira diria
é tudo
tão tudo
uma grande história
cheia de irias, virias, podias...

é a luz maldita que delata a cor do dia
que levanta o pobre homem que não queria
que atormenta as estradas, suadas, as ferrovias enferrujadas.

são as cores pela janela que não passam de uma projeção amarelada,
que pintam a cidade, os cortiços, as bebidas esquecidas de outro dia
que tiram o quarto daqueles que não tem casa, que tiram de casa aqueles
que tem trabalho, que mexe naquilo que pode ser tudo, que não é nada
que coisa, maldita luz do dia.

e há, outra vez,
há outra vez a fala contida, o aperto na ida,
a tristeza na volta
e desculpas,
desculpas por não ter vivido
da maneira mais ilusória como um velho filme francês
fui como um novo vinho comprado aos passos rápidos no armazém da esquina. desculpe.
desculpe
desculpe não ter vivido o dia
da maneira como minha geração queria.
desculpe a covardia.
não fiz tudo que podia.

Santiago de Chile '15

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Lejano amor cercano

hoje não tem voz no teu ouvido
não tem rosto no meu corpo

mão no corpo

corpo no corpo

hoje não tem calma
amanhã tem
tem calma tem beijo suspiro riso contido
amanhã é tão longe.

'hay cien pueblos en nuestro camino'

há velhos rios escorrendo para o sul
uma imensidão de rostos que nunca seremos
a profundidade de mil almas que nunca teremos
a saudades de um abraço que ainda não vivemos

hoje tem uma duas três
tem uma estrela no céu pra cada beijo
cada beijo não dado,
cada abraço atrapalhado
cada riso inundado

de ti.
por ti.
em ti.

tudo emaranhado,
intricado dependente amor latente,
por que não rir?

hoje não tem calma,
mas não tema,
nuestra espera és pequena...


e a vontade tão grande.

Santiago de Chile '15

segunda-feira, 30 de março de 2015

Mediterrâneo

azul pálido contra as folhas da cidade,
cachecóis e suas ondas naturais.
uma lua tão longe de estar no céu,
um sol cansado, se deita, cerra os olhos...

é tão fácil
tão fácil ultrapassar portões de ferro
porque não passam de sombras
as sombras tristes de uma tarde ensolarada.

nos pés floridos um balanço cansado.
um giro na imensidão desconhecida.
dois giros em que o vento bate n'alma,
no riso, nos passos desajeitados.
mais longe a oeste, é assim
dessa maneira
que o velho mediterrâneo, então
dá boas vindas.

Santiago de Chile '15

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

o dia passa:

o acordar lento do meio-dia, um almoço em doses saladares, a tarde arrastada pela busca infindável de uma certa disciplina, a noite vem, vai, sobreviver é tão fácil.