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terça-feira, 17 de dezembro de 2019

era pra ser um poema de amor

quem suporta inverno,
sabe que passa junto com choro
passa também o olho enviesado que alguém
amistoso, mas hostil, contradito no
próprio jeito não
fica
junto com o fascismo
bate essa bota
bate outra bota

passará.

sábado, 19 de outubro de 2019

minha avó não costurava
mas ao fazer
sua mão firme
traçava a linha
de ponto em
ponto
guardando 
em cada nó
um pensamento 

domingo, 6 de outubro de 2019

dura, dura, luta, gota e chuva

poesia do gato
escondeu
era pra estar na sacada
cadê o meu?

poesia da chuva
careceu
tanto mar, tanto mar
e aqui água desapareceu

poesia da greve
aconteceu
mas greve para funcionar
tem que ter gente e perdurar.

terça-feira, 27 de agosto de 2019

amo
      e amo-o
não deixo-o
só a pátria queimada
é que permito ao coração
       não amar
(uma tarde peguei-o entre
  as mãos e "lo dice":
                    nacionalismo
                            aqui não)

sábado, 22 de junho de 2019

uma história em poucos atos


sentir quando o chão está seco

vivia a política como suspiro longo, indo para lá e para cá, sentindo a dor do mundo de quem olha para a própria história, dos pares, e vê desmoronar as possibilidades de justiça social.

em outubro de 2018, no brasil, um tremor iminente: elegia-se um dos mais violentos representantes do executivo de toda a republiqueta.

e no meio da confusão: apaixonou-se.

política que dói

man in power
another
and
outro
man
men
(oh
men!)
homem
homens
men in power

domingo, 12 de maio de 2019

que bobeira!
apaixonada e saio, sem dizer nada!

que pena!
senti pontada-certeira-maluca e fico,
feminista
não crio muvuca!

assim, do nada, posso dizer "estou apaixonada"?

pontada-certeira-maluca ainda é motivo pra criar muvuca?

ah: pra você é arapuca.
seria uma grande pena
estar apaixonada
e não deixar que saiba

que amor!

contar em teu ouvido
esperar vir o alívio
que também queres a mim
mesmo com

fim.

as ganas de quem
entre noites
suspiros
risos bramidos
se joga no mundano
sí-mí
que exige entrega sem

fim.


tanto amor e potência
para terminar
escrevendo
com o olhar caído
em um diário ordinário

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

mar morno nordeste

bradei diversos cantos
em espanhol-português-portunhol
mas só o sotaque
baiano fez do llanto,
que é qualquer coisa
triste ou menos feliz,
um viver por inteiro,
um existir resistir.

já que das ladeiras de Salvador
escorre o morno maçante
de um Brasil conservador
entregando-o para o mar
para não mais voltar
e entre as ruelas de cheirar,
crescer, colorir
um afro-brasil inteiro parir.

domingo, 6 de janeiro de 2019

poesia arriada

está lendo um relato
de um certo oriente
entre prosa, calor e poesia
a mente
viaja para o querer
palavra tão pudica de escrever.

as expressões mais necessárias
parecem não caber
se as deixa vir
o corpo treme e então
é poesia?

no vento quente que vem
de um ventilador empoeirado
um funk promíscuo
e descompostura
parecem encaixar mais
em tudo que sente
abaixo da cintura.

(ainda mais
nessa ilha
bananeira e tropical,
que agora
na republiqueta
tem mais vulgaridade
que qualquer "piroqueta").

florianópolis/jan19