uma ferida aberta
no coração de cada irmã
que de longe, ainda que sã
tenha ouvido da tua dor
uma lágrima de raiva
no rosto de cada mana
seja ela:
ana
juliana
joana
ou mariana
que na própria feição
faz escorrer tua aflição
um nó apertado
na garganta de cada uma
cada mona,
cada mina,
que aprendeu
que para viver
é necessário
ter mais que rima
mais que sina
não importa se está acima
se está por cima
ou tem estima
há sempre a chance
a velha chance
de ser a próxima vítima
porque esquecem no caminho
que nosso corpo nos pertence
(e não importa se és bonitinho
ou arrumadinho)
temos sempre que relembrar:
a nossa independência
vai muito além de qualquer complacência.
porque trinta e três!
trinta e três! é número que
em cada uma
em cada nós
em cada manas
chocou, assustou
e imprimiu terror
mas longe de nos acanharmos:
choca e empurra pra luta!
assusta e o grito é de luta!
aterroriza e nos faz ter mais luta!
cada ferida, cada lágrima e cada nó na garganta
pelas irmãs que na violência
ainda têm força e resistência
para que um dia saibam
que atrás de cada dor
há 33 vezes 3
manas lutando
com cada vez mais vigor!
a ilustração é da artista dani acioli |