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sexta-feira, 15 de março de 2013

Os leões da literatura

Vai, Carlos! ser gauche na vida
Carlos Drummond de Andrade

Toda palavra nasce condenada. Um livro é a profusão de tudo aquilo que o autor não quer mais pra si. Ele quer largar para o mundo, para o mar, para o céu e aos quatro ventos. Um conto é uma pequena amostra daquilo que pode vir a marginalizar a sociedade. Do que um dia pode vir a se tornar... Livro. Os livros são a depravação do que está intacto, estão todos limpos da poeira sangrenta de tantas histórias inacabadas. E essas pavorosas histórias matam a sangue frio. Mantendo-se sempre intactas.

Liberta de si, coitada, ela achava que estava.

O corpo é a prisão da alma, a alma, um inocente condenado a morte. A morte a antítese de qualquer livro.

Ria sozinha, indiscreta, liberta de si; lia.

Um romance que se preze vem com lágrimas nos olhos. A literatura mata, lentamente, todos aqueles que à ela tentam se impor. Os deuses irreais de todas os velhos reinos. Imune ao tempo, à guerra, ao drama pós-moderno. É a deusa mãe de todos os livros, mesmo dos contos marginais, que ainda estão para nascer.

Coração maluco, lê uma nota no jornal e descobre aterrorizado: a literatura eterniza. Palavras condenadas a viverem para sempre. Condenadas a vencerem todas as lutas e matarem todos os leões. Leões esses, que sempre se vão com o tempo.

Lia sozinha, liberta, ela chorava.

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