rua morna de primavera
sem estrelas o céu marinho
prepara-se para a chuva
como o pássaro prepara o ninho
na esquina vem o amigo
e o amigo do amigo
passa o vento lento
a saia
em acalento
ondula no relento
na nuca os beijos
vão descen
do
até o osso
da
velha saboneteira
que
se fosse fosso
se fosso fosse
seria o
melhor fosso
para viver
até o osso
Páginas
segunda-feira, 24 de outubro de 2016
sexta-feira, 27 de maio de 2016
em cada violência: luta, força e resistência
uma ferida aberta
no coração de cada irmã
que de longe, ainda que sã
tenha ouvido da tua dor
uma lágrima de raiva
no rosto de cada mana
seja ela:
ana
juliana
joana
ou mariana
que na própria feição
faz escorrer tua aflição
um nó apertado
na garganta de cada uma
cada mona,
cada mina,
que aprendeu
que para viver
é necessário
ter mais que rima
mais que sina
não importa se está acima
se está por cima
ou tem estima
há sempre a chance
a velha chance
de ser a próxima vítima
porque esquecem no caminho
que nosso corpo nos pertence
(e não importa se és bonitinho
ou arrumadinho)
temos sempre que relembrar:
a nossa independência
vai muito além de qualquer complacência.
porque trinta e três!
trinta e três! é número que
em cada uma
em cada nós
em cada manas
chocou, assustou
e imprimiu terror
mas longe de nos acanharmos:
choca e empurra pra luta!
assusta e o grito é de luta!
aterroriza e nos faz ter mais luta!
cada ferida, cada lágrima e cada nó na garganta
pelas irmãs que na violência
ainda têm força e resistência
para que um dia saibam
que atrás de cada dor
há 33 vezes 3
manas lutando
com cada vez mais vigor!
a ilustração é da artista dani acioli |
domingo, 22 de maio de 2016
a criança mais lambuzada da história das infâncias
num carrossel
cor de mel
esperava comendo um pastel
"- eu vim passear"
mentira mentirosa de criança trapalhona
veio ao mundo por engano e assim,
girando
girando
esperava com uma velha japona
esperava para te dar a mão
o riso, braço e abraço
e para continuar
amando te amar
esperava para te dar a música
aquela que tocava no rádio
abaixo do teto do borralho
nas noites de vinho e agasalho
que ressoavam tantas canções
embalando seus corações
esperava para te dar alguns passos
de todos os sons
que ainda não dançaram
e todas as estradas
que ainda não pisaram
esperava para ver teus giros
teus suspiros
teus mergulhos
teus respiros
tua arte
ou uma parte
daquilo que sonhas ser.
que já és.
e no mundo, meu senhor!
nesse grande e saboroso mundo
em forma de maçã do amor
tinha a certeza que você era a criança
mais lambuzada da história das infâncias.
e de longe, não tão longe
do planeta dos cavalos coloridos
a menina da japona
ria e sorria
esperando para chegar
com seu carrossel
(cor de mel)
e criar poesia
como forma de amar
(eu espero que sua imaginação
nunca se limite por problemas reais)
poesia presente de aniversário :)
sábado, 27 de fevereiro de 2016
samba de guria
samba que vem na espera
faz o tempo se apressar
samba que vem no sábado
nunca cansa de tocar
na viola, seu paulinho
com waldir, o cavaquinho
no meu coração, 'tadinho:
um mundo de chorinhos
e nos ombros de guria que balançam
o esquecimento de todo aquele ranço
por todos aqueles que fingiram que não sambam
e na espera
vem vai vem (vai vem vai)
passo pra cá e pra lá
samba dança balança, lança
o corpo pra lá e pra cá
vem e vai e vem
e nunca para de sambar.
santa maria, fev. de 2016, ao som de cochichando interpretada por paulinho da viola
faz o tempo se apressar
samba que vem no sábado
nunca cansa de tocar
na viola, seu paulinho
com waldir, o cavaquinho
no meu coração, 'tadinho:
um mundo de chorinhos
e nos ombros de guria que balançam
o esquecimento de todo aquele ranço
por todos aqueles que fingiram que não sambam
e na espera
vem vai vem (vai vem vai)
passo pra cá e pra lá
samba dança balança, lança
o corpo pra lá e pra cá
vem e vai e vem
e nunca para de sambar.
santa maria, fev. de 2016, ao som de cochichando interpretada por paulinho da viola
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016
jazz das paredes brancas
na árvore, o olhar e os traços
aqueles últimos de alguém que precisou de um maço,
pra soltar a amargura que parecia não ter fim.
e na garganta seca,
pousava a borboleta
que um dia no estômago dançou.
e no coração, em forma de mão,
dilatava-se o último murro de irritação
cai como uma folha
e levanta,
sai a rolha, vem o vinho
o corpo gira e a saia começa a balançar
na sala vazia o jazz não para de tocar
e as paredes brancas sabem só rodar.
e nesses desencontros de um coração boêmio
perde-se no caminho a vontade de estar
de lo querer
de lo amar
e no fim de uma corrida impressionante
em busca de si
(dele
das outras)
percebe-se risonha
e esquece, esquece uma porção
dessa grande
grande
desilusão
e lembra que nada supera
bailar jazz de pés descalços no chão.
na estrada de fred west a panambi, fevereiro de 2016.
aqueles últimos de alguém que precisou de um maço,
pra soltar a amargura que parecia não ter fim.
e na garganta seca,
pousava a borboleta
que um dia no estômago dançou.
e no coração, em forma de mão,
dilatava-se o último murro de irritação
cai como uma folha
e levanta,
sai a rolha, vem o vinho
o corpo gira e a saia começa a balançar
na sala vazia o jazz não para de tocar
e as paredes brancas sabem só rodar.
e nesses desencontros de um coração boêmio
perde-se no caminho a vontade de estar
de lo querer
de lo amar
e no fim de uma corrida impressionante
em busca de si
(dele
das outras)
percebe-se risonha
e esquece, esquece uma porção
dessa grande
grande
desilusão
e lembra que nada supera
bailar jazz de pés descalços no chão.
na estrada de fred west a panambi, fevereiro de 2016.
Pintura de Michael Carson |
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