Páginas

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

perambular estrelar

todo um sistema solar
pra encontrar
em nosso olhar
planetas coloridos
cheios de lagos reluzentes
um universo envolvente
onde procuramos os pedaços
de uma estrela explodida
que queimou intensamente
antes da partida.

na água luminosa
buscamos essas pedras
escondidas pelas heras
aquelas bem ao fundo
desse ambiente cósmico
do além-mundo.

e esses pedregulhos
faiscantes
são buscados em mergulhos
incessantes
pelos seres cujo pecado maior
é se entregar à imensidão
de círculos de abraços, giro e suor
que como os anéis de saturno
repetem-se sob o céu noturno
no nosso perambular milenar
na galáxia de amar,
desamar e
ser explosão estrelar.



domingo, 2 de setembro de 2018

do que é feito um país?

um país é feito de gente
que sua, chora, sofre, mas ri.
gente que inventa,
que conta e escreve história,
com arte,
luta,
ciência,
trabalho...

um país é feito de gente,
mas também é feito do que fica depois da gente.
para isso cada país tem um lugar,
um lugar de guardar.
pode ser uma casa, um prédio
paredes de ferro, madeira ou concreto.

se for casa
pode ser grande
ou pequena,
uma de várias ou apenas uma.
jardim interno, externo
jardim nenhum
importa é que essa casa tem memória
a memória do nosso caminhar
desde a rua em que está,
porque está, o que será
quem somos e o que fizemos
com o que descobrimos
sobre o tal andejar.

tem lá nosso sonhar,
o que realizamos e reivindicamos,
o que detestamos e que para não reviver:
há que lembrar!

lugar de guardar,
preserva o que fomos,
nos lembra o que ainda podemos ser.
e qual história
arte
ciência
trabalho
luta
queremos ter.

do que é feito o Brasil?

ah, como eu queria ter conhecido o Museu Nacional...

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Sobre deixar as coisas na areia e entrar no mar gelado

Meu 23º ano de vida começou ensolarado, com vento nas costas e mergulho no mar gelado.

Comecei meu novo ciclo me lembrando da importância da vida-morte-vida. Que sou cíclica, de corpo e de alma. Sou feita de dança, sonho e de riso. Mas também de silêncio, de pés firmes na terra e, quando necessário plantar a muda que será raiz, de mãos na terra também. E dessas coisas de terra e coração, comecei o ciclo - esse tempo de reflexão - lembrando que há coisas que semearei e cuidarei para que renasçam/floresçam e outras que deixarei morrer.

Além, nesse dia ensolarado, comecei tendo consciência da importância de uma vida feita à mão, de permitir e colocar meu toque naquilo que faço e vivencio. E não me culpar por isso. Tendo ciência do que me move, quais são minhas paixões, minhas lutas; qual a poesia do meu viver. Sabendo que sou uma pessoa que se afeta com a vida, se entrega e se emociona com o barulho do mar, com um filme, um livro, um ato de potência, com uma palavra, um gesto, com um corpo que dança, com uma poesia.

Mas mais importante: sentindo que nesse novo ciclo é necessário ser auto-responsável diante do que já sei sobre mim, não traindo quem sou e sendo sincera em ações e sentimentos. É bonito e não é fácil. Por isso fiz ontem o exercício de deixar as coisas na areia e entrar no mar gelado. O que também é uma metáfora singela para algo tão difícil: deixar ir, permitir que morra, reconhecer a ciclicidade da vida e me jogar no desconhecido. E sair renovada. Mas nunca determinada, porque a vida também é lugar em que a mudança é constante, em que históricxs caminhamos. Por isso inciei o dia de ontem lembrando dos meus compromissos com a vida, com meus sonhos e quereres e tranquila em dizer que, no dia de amanhã, não há problema em ter que relembrar tudo isso novamente. Permito assim que flua o "rio abajo rio", aquele em que consigo ser eu mesma.

Como é bom saber disso tudo no dia de hoje, é bom estar na vida, esse lugar de aprender!, lugar de sentidos, de aprender a ser humilde, a ser terna. Pelas palavras de Sosa: gracias a la vida que me ha dado tanto! Gracias aos laços que criei com tantos seres maravilhosos/as que tenho compartido tanto!


Campeche - 06/08/2018

segunda-feira, 30 de julho de 2018

rio por baixo do rio

rio abajo rio
por onde corro
lá fluo
a lua
e solto a mulher
do fim do mundo

resgato aquela
que leva dentro de si
e nos ossos
todo o saber
de como escorrer
pela vertente e até o fim
deste rio
num ciclo
arredio
de começo-fim-começo

rio abajo rio
permito ali meu (re)existir
teço meu próprio ser
o que quero deixar
morrer
o que quero semear,
cuidar e
alimentar
a loba
selvagem que quero
soltar.
Se amar
Semear
Sê mar

quarta-feira, 4 de julho de 2018

TECER O FLORIR

Basta uma folha em branco
para me escrever
terreno de semeadura
do sentir e viver.

Mas o viver só não basta
não cresce sem a paixão
essa energia e potência
à semear no mundão.

Cava, limpa
suja as mãos
espera, rega
sussurra e ri.
Numa vida cabe
esse tecer o florir.

Florianópolis, jul. 18
Após pensar sobre o conto dos sapatinho vermelhos, analisado no cap. 8 de "as mulheres que correm com os lobos" de Clarissa Estes.

sábado, 2 de junho de 2018

sonho de parto

eu preciso me parir
sou a maçã
em formação
a fruta que implora
para cair do pé
e rolar, virar semente, florescer
novamente.

é necessário que eu me 'para'
que eu solte as raízes
balance o cabelo
vire e revire nos braços
de outro alguém para então
mesmo com toda quentura
dizer apenas:
não.

eu quero urgentemente me parir
ver os nós do corpo todo a me soltar
deliciar-me com
minha voz, meu olhar
minh'alma que sei que está lá
e dos teus olhos me desvencilhar.

parir a mim mesma numa noite de frio
parir a mim em jacarta ao som de rita lee
parir fugindo e me mostrando
parir eu mesma, sabendo que quero me ter
sem saber se posso me ter.

jun. 2018/ Panambi - RS
Após sonhar com uma gravidez que gostava no início, mas que depois decidi abortar por conta do julgamento das pessoas. Carl Jung vê sonhos de gravidez como o renascimento da própria personalidade, é um troca de pele. 

quarta-feira, 16 de maio de 2018

verraad

corrói, mas rompe
o que
dentro está

latente desejo
ao toque, à voz...
(teu som de melodias tão
lascivas)

rompe a crista divina
pura
banal

traz furacão
sons sem ritmo
danças em descompasso
desordem total

no meio da bagunça
um coração
pulsante
gritante!
remoendo paixão

nas veias mais antigas,
nos suspiros mais treinados,
nos olhares mais sem brilho:
explode!

suga o que vem, dele
dela e nega
até
o fim
cada célula de perturbação.

domingo, 6 de maio de 2018

dia poesia

dia poesia
aquele em que escuto
o sussurrar
da minha voz
e adormeço

dia poesia:
olho o sol
há gente, há
a
mar
elo

dia poesia
em que o batuque
tomou conta
da rua
do canto provocador
latino
hispânico
das palmas do pescador


dia poesia,
sigo meu corpo e sinto
o forró que vem da gaita
no arante, mais ao sul,
entre cachaças e passos errantes

dia poesia,
me de(le)ito
com o passar do vento
no coqueiro.

Florianópolis, 2018
depois de um dia em Armação, Matadeiro e Pântano do Sul